Neste artigo farei uma análise de um fato inusitado ocorrido há pouco tempo. Utilizaremos, para extrapolarmos o ocorrido, algumas abordagens do Design Thinking para planejarmos e viabilizarmos um MVP extremamente rentável segundo o que nos será apresentado.
Durante esse texto espero poder dar uma visão de como podemos solucionar problemas iniciais do projeto de software, da concepção de um produto, a como entender e entregar uma nova experiência aos usuários chaves.
O que é Design Thinking?
Design Thinking é um tipo de abordagem que soluciona determinado problema, estimula a criatividade e autonomia do time.
“Uma banana para você” com Design Thinking?
A feira de arte contemporânea Art Basel, de Miami de 5 de dezembro de 2019, trouxe a inusitada “peça de arte” de Maurizio Cattelan, uma banana colada na parede com fita adesiva, avaliada em 120 mil dólares (R$ 490.000).
Tratava-se de uma participação da obra “comediante”, representado o “comercio mundial” sendo este o título da obra.
Durante a exposição, David Datuna, caminhou até a banana exclamando: “é uma performance. Chama-se “artista com fome” e a comeu, o que lhe concedeu a alcunha de “o artista faminto” dando-o visibilidade no cenário artístico.
Por sua vez, a banana foi arrematada pelo valor mencionado acima por um colecionador francês, que não perdeu a “obra” pois possuía um certificado de autenticidade que permitia substituição da fruta e da fita.
Segundo Lucien Terras, diretor da Galerie Perrotin, “Ele não destruiu a obra. A banana é uma ideia”.
Qual a relação de Maurizio Cattelan com o Design Thinking?
Tornou-se famoso por obras como “A Nona Hora” que expõe o papa João Paulo II deitado no chão após ser acertado por um meteorito, representa que qualquer um pode passar por problemas inusitados, não importando sua condição, cargo e etc.
Ou “Ele” que consiste em uma estátua de Adolf Hitler ajoelhado diante do gueto de Varsóvia como em penitência aos atos cometidos na Segunda Guerra.
Mas, antes destas consagradas obras, Maurizío era marceneiro na cidade de Forlì, Itália, durante a década de 1980. Autodidata, veio a conhecer alguns designers italianos que o influenciaram em suas obras e a “pivotar”, tornando-o um dos artistas da atualidade reconhecido pela irreverência e curador de arte renomado.
Explorando o Cenário
Sendo bem sincero, não sou entendedor de arte moderna, consigo olhar uma pintura do período renascentista e muitas vezes apreciar o Realismo e às vezes dizer “caramba”. Creio não ser o usuário destinado para obras modernas, mas ok.
De um olhar prático, uma tela, pincéis e tintas de qualidade são caras, assim como o qualidade do software, que não é tão fácil de alcançar. Fora o custo pelo tempo empreendido até a finalização de um quadro. Em contra partida, uma banana custa em torno de R$ 1,75 e a fita R$ 10,00.
Se tratarmos “Comércio Mundial” como um projeto, poderíamos dizer que foi extremamente viável, pois, o custo e tempo para seu desenvolvimento foram baixos e rentáveis, pois valorizou em torno de “57575%”.
Podemos também avaliar alguns outros ganhos que tornam desejável, principalmente aos usuários como D. Datuna que, através de uma interação, recebeu fama. A galeria recebeu parte do valor da venda, a feira Art Basel a atenção por parte da mídia.
Ao comprador francês que, até o momento, não foi divulgado, conseguiu a obra com seu certificado e direito de exposição. Já para todos os outros visitantes que tiveram a oportunidade de se divertir com a inusitada peça.
Esse é o sonho de qualquer empresa de software, startup ou multinacional, poder entregar em pouco tempo um produto extremamente lucrativo e com uma experiência ótima de relacionamento com o cliente final e propondo parcerias lucrativas.
Utilizando algumas abordagens do Design Thinking poderemos provavelmente nos aproximar dessas expectativas, como veremos a seguir.
Abordagens do Design Thinking
Tentemos considerar da seguinte forma, a Art Basel como Stakeholder e Maurízio como nossa empresa prestadora de serviços para podermos construir nosso “causo”:
Imagine a narrativa com todos os integrantes fazendo aquela “coxinha” com a mão para deixar o mais italiano possível! 😀
Acabando o jantar, Maurízio recebe uma ligação, é a Art Basel que lhe saúda:
— Maurízio, Bonasera!
Que responde:
— Fala Bello, Bonasera!
— Aqui é a Art Basel, queremos contar com sua participação em nossa exposição em Miami.
Maurizío, palitando o dente após a refeição, questiona:
— Para quando seria, Bello?!
— Faremos o evento em 1 mês, topa?
Espantado com o pouco tempo Maurízio pensa:
“Dio santo, ma come vou fazer uma obra em tão pouco tempo?”
Sabendo que sendo um artista de renome que sempre busca a satisfação do cliente era importante arriscar e manter sua fama, então responde:
— Perfetto, 1 mês então!
A ligação é finalizada com uma saudação e começa um novo projeto.
(Desculpem meu péssimo italiano, aprendi vendo novelas).
Sabendo que o tempo é pouco e querendo ser assertivo em sua entrega, Maurízio tenta idear uma solução com o que tinha à mão ou, no caso, tudo o que tinha em casa e não faria falta.
Não haveria tempo de obter matéria prima com tanta prontidão, mas para isso seria bom imaginar quem seriam os usuários que poderiam apreciar sua nova obra e o que eles realmente querem.
Assim, ele decide partir para o Design Thinking para conseguir de forma rápida entregar algo inovador e desejável.
Personas e Design Thinking
Vamos realizar um processo de benchmark, com galerias, museus e centros de exposição, com total imersão para descobrir nosso usuário ideal, para isso, utilizamos a técnica de sombra para observação de comportamento e entrevistas para entender suas particularidades.
Ao final, podemos chegar a esse seguinte exemplo de público-alvo:
- Mulheres e Homens, entre 25 a 50 anos com alto poder aquisitivo (capacidade de compra em torno de R$ 500 mil), arte contemporânea e com desejo de interagir e negociar obras de arte.
Partimos então para conhecer algumas personas que podem ser nossos usuários:
- Betty Empreendedora: 35 anos – possui uma empresa de comercio exterior;
- Apreciadora de obras de arte;
- É frequentadora de exposições;
- Costuma comprar peças inovadoras e com senso crítico;
- Tira fotos de obras que a agrade e posta nas redes sociais.
- Pedro Curador: 40 anos – responsável pela curadoria das obras em de exposições;
- Conhecedor de obras de arte;
- Escolhe as obras e organiza segundo a exposição;
- Deve garantir a integridade das peças;
- Conversa com possíveis compradores.
- Henry Investidor: 48 anos – possui investimentos diversificados;
- Comprador de obras de arte;
- Adquire peças extravagantes e excêntricas;
- Presa por obras autênticas e exclusivas;
- Compra suas obras sem ir ao local, mediante contato com curadores.
- Davi Artista: 45 anos – Artista plástico com certo reconhecimento;
- Vive da arte;
- Costuma interagir com as peças;
- Sempre procura o que comer nas exposições;
- Gosta do reconhecimento da mídia.
A elaboração destas personas segue um modelo simplificado com nome, idade e uma biografia simples. Bem direto, considerando alguns pontos de maiores relevâncias dos possíveis usuários.
Gosto de utilizar um substantivo no nome para evidenciar uma característica e facilitar a memorização.
A partir disso ficaria mais fácil usarmos uma abordagem como o mapeamento da jornada do seu usuário, entendendo assim como haveriam interações com o público. Por exemplo, o caso de “Davi Artista”:
Vamos considerar alguns pontos do nosso levantamento. Seria normal imaginarmos a “Betty Empreendedora” e o “Henry Investidor” como nosso foco principal, nossos usuários ideais, o que eles realmente são. Mas, existem outros possíveis usuários que podemos atender, mesmo com um escopo reduzido.
Para o caso do “Pedro Curador”, devemos garantir que nosso produto tenha as funcionalidades para ele conseguir realizar suas atividades, pense nele como nosso stakeholder, o parceiro que intermediara as negociações e as visibiliza.
Para isso, se não for algo autêntico e que prove nossa autoria seria difícil ser arrematável por algum possível cliente.
E, se prometermos algo interativo, devemos levarmos em conta que pode se danificar e perder o valor de venda, o que custar todo o projeto.
Agora para o “Davi Artista” ele pode ser encarado como um concorrente ou um possível parceiro de negócios em muitos projetos, se conseguimos trazer algo com um bom custo benefício, ao invés de uma guerra por algum nicho específico de mercado, podemos converte-los em parceiros e conseguiremos uma relação ganha-ganha.
É claro que estamos falando de um produto minimamente viável (MVP), e que, em um determinado estágio do projeto, não conseguiremos suprir todas as necessidades das personas deste levantamento inicial, mas torna-os futuros usuários chave.
A organização de ideias
Deste ponto, conseguimos criar um diagrama de afinidade para organizar nossos insights, a premissa do Design Thinking, a partir de compreender quem são nossos possíveis usuários e o que esperam:
Simples:
- Usar o que tenho em mãos
- Ser barato, não me fazer falta
Seguro:
- Certificado de autenticidade;
- Ser substituível se for danificado pela interação.
Interativo: - Tem que estar visível para as fotos;
- Chamar atenção;
- Poder ser tocado;
- Pode ser até comido (Por que não?!)
Criativo: - Ter um significado criativo
- Ser extravagante
Nesse esquema, conseguimos elencar alguns pontos para viabilizar nosso primeiro MVP desejável.
Outras boas práticas que poderiam nos ajudar na percepção de nossa solução poderia ser um “Business Model Canvas” ou “Lean Canvas”, com uma abordagem de identificar e mitigar o que foi levantado através de anotações rápidas e papeis adesivos em um quadro planificado, porém não entrarei nesse detalhe.
Da ideia ao protótipo
A partir desse momento, segundo a nossa capacidade (levando em conta insumos e mão de obra), conseguimos projetar nossa ideia.
Um primeiro passo seria começar a projetar a nossa ideia, podendo ser um protótipo desenhado que nos permita as primeiras impressões e Feedback.
Depois a existência, criando uma replica minimamente funcional para ser validada com nossos usuários chave, sendo ele qualquer um que possa nos ajudar a evoluir nosso produto e tenha as características das personas que foram mapeadas como principais.
Voltemos a narrativa com o Maurízio para imaginarmos como ele criou seu protótipo:
Era nítido que Maurízio estava focado em entregar uma obra minimamente viável.
Ele para por um momento e começa a olhar seus desenhos, como tentando ver como tudo aquilo poderia se encaixar, essa é a vibe do Design Thinking. Colar a banana na parede pode ser a solução quando não tem espaço na mesa. Depois, para fazer um experimento, colou no portão de sua casa, essa é a obra de arte extremamente viável e de baixo custo, com alguns processo criativos do Design Thinking!
Visão sobre projetos
Ok, você pode até me dizer que esse roteiro descrito anteriormente foi bem manjado e previsível, mas considere que nossas soluções devem responder problemas complexos de forma simples, isso torna um projeto extremamente rentável.
Se conhecermos todas as variantes do projeto e envolvidos, conseguimos alcançar o final do projeto de forma guiada ou guiamos nossa solução.
Por isso é extremamente importante entender quem são os envolvidos, as necessidades que precisam ser aplacadas e sua capacidade de produção, isso já nos resulta em custos reduzidos.
Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas.
Arte da Guerra
Mundo ideal vs Realidade
Algumas contrapartidas são necessárias, obviamente não foi dessa forma que se chegou a uma banana na parede. A ideia simplesmente surgiu e foi empregada, porém não podemos tirar o mérito de Maurízio ao conhecer o seu público e poder se dar ao luxo de simplesmente “fazer”.
Mas consideremos que ele já recebeu feedbacks de outras experimentações, e possui conhecimento de causa. Nesse caso uma abordagem com design thinking facilitariam nossas perspectivas durante o processo de desenvolvimento de novas soluções de software, sendo uma ferramenta útil para podermos compreender nossas possibilidades e entregar da melhor forma possível.
Falando sobre projetos, sabemos que nem todas as abordagens “novas de mercado” se aplicam, talvez personas não sejam foco de uma integração entre sistemas, por exemplo.
Mas precisamos fazer as experimentações necessárias, para prevenir o erro e sanar todas as dúvidas antes de, por exemplo, lançar sua solução ao mercado.
Mesmo se partir para uma abordagem como “Canary Test”, devemos ter um objetivo consolidado, para agir com as amostragens obtidas e trabalhar nas nossas evoluções de produtos segundo um plano de ação previsto.
Inovação está nos detalhes
Talvez uma das maiores sacadas de abordagens como Design Thinking, seja a percepção do problema em um âmbito macro e chegarmos aos detalhes que em algum momento poderiam se perder no projeto, mas que tornam nossas soluções únicas e desejadas.
Os detalhes capturados no início do projeto auxiliam e guiam a evolução do produto para uma relação mais próxima de seus usuários e torna um diferencial comparado a outras soluções concorrentes.
É nesse momento que nos perguntamos, “porque não uma banana?!” ou “E se deixarmos o público comer a banana?!”.
Essas perguntas podem ser validadas para aquele estágio do projeto para fechar o escopo de um MVP. E aí entra a visão de um produto mínimo desejado (minimum desirable product MDP).
Produto mínimo desejado (MDP)
Para um MDP, você precisará realmente fornecer uma experiência do produto para que seus clientes possam fazer uma avaliação completa.
Você pode implementar métricas de quais benefícios está oferecendo. Um produto mínimo desejável se concentra principalmente em fornecer ou uma experiência incrivelmente boa ao produto e criar valor para o usuário final.
O que é MDP?
Se você construir uma solução como um sistema de controle financeiro que seja lucrativa, mas tenha uma rotatividade terrível de usuários (Churn) – você criou um MVP, mas não um MDP.
Se você construiu um sistema incrível que seus amigos e familiares amam, utilizam muito e aplacam todas as necessidades, mas não consegue investidores para poder lançar no mercado, então criou um MDP, mas não um MVP.
Segundo Andrew Chen, sócio da Andreessen Horowitz, empresa de capital de risco do Vale do Silício, que investe em startups:
O Produto Mínimo Desejável é a experiência mais simples e necessária para provar aos usuários uma experiência de produto de alto valor e satisfatória, independente da viabilidade comercial.
Normalmente soluções MDP demandam alto investimento, tempo de pesquisa e equipe qualificada para desenvolvimento de uma solução a curto prazo.
Estão normalmente atrelados a necessidade de investidores o que pode ser um problema se realmente não for “desejável”.
Abrindo para uma análise, esse tem sido um dos grandes problemas para desenvolvimento de novos produtos por Startups, a linha tênue de ter um produto desejado e contra partida controlar custo alinhado a adquirir investidores.
MVP + MDP = MVDP
Agora nos deparamos com uma dificuldade, se por um lado focarmos totalmente no usuário e abrangermos demais nosso escopo para atender da melhor forma “TODAS” as necessidades, podemos nos deparar com custos absurdos e falta de investimentos.
Por outro podemos ter um MVP, totalmente focado em uma regra de negócio e que nesse nicho já existam outros tantos concorrentes como a mesma solução ou melhor, tornado nosso produto com os dias contados.
Então precisamos encontrar a intersecção entre usuário e negócio. Por isso mencionei antes de conhecer todas as particularidades do projeto desde seu início. Precisamos nos fazer a pergunta, “O que posso entregar logo de início que seja desejado a um custo baixo?”
A dica é imaginar quais as funcionalidades que aplacam a maioria dos problemas, e buscar com pesquisa conhecer seu diferencial (ou no caso, sua Banana).
Faça uso do benchmark, conheça a concorrência, faça parcerias, traga seu cliente para perto. As respostas surgirão das relações e feedbacks recebidos na ideação à prototipação.
Ao receber as respostas guie seu business plan para solucionar problemas o mais rápido possível, alinhando custos às expectativas. Tendo uma funcionalidade pronta torna mais fácil até a captação de investimentos.
Então podemos dizer que saímos de um mero MVP ou MDP, para um produto minimamente viável e desejável – MVDP (Minimum Viable and Desirable Product), através de uma abordagem com design thinking!
Design Thinking pode ser o caminho pra você
Espero poder ter dado uma visão e gerado uma reflexão de como algumas práticas podem ser úteis para capturarmos diferenciais no início do projeto, alinhando expectativas e necessidades com a capacidade de produção, nos permitindo criar soluções melhores, assertivas e com sucesso, que satisfaçam não só o publico-alvo, mas novos usuários chave e investidores.