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Pretensão salarial em tecnologia: uma análise sobre a disparidade entre gêneros

Pretensão salarial em tecnologia: uma análise sobre a disparidade entre gêneros

No dia 8 de março comemoramos o Dia Internacional da Mulher, uma data importante que reabre as discussões sobre a experiência feminina na sociedade.

Neste mesmo dia, a GeekHunter promoveu um webinar sobre a presença feminina no marcado de tecnologia, com as convidadas Viviane, Karina e Carol (se você perdeu, clique aqui para assisti-lo na íntegra). Durante o evento, as convidadas e os participantes compartilharam suas perspectivas e levantaram questionamentos pertinentes sobre o tema.

Durante a discussão, um dos assuntos mais comentados, foi a questão da disparidade salarial, também conhecida como “gap”, entre homens e mulheres. Curiosamente, o foco da discussão não foi a discrepância salarial efetiva, mas a diferença nas pretensões declaradas. Este tema gerou um debate interessante que nos motivou a buscar dados adicionais sobre o assunto.

Analisando os dados da nossa plataforma, observamos que a média de pretensão salarial de mulheres é 15,4% menor do que a dos homens.

Quando juntamos esse dado com a informação de que mulheres se candidatam a uma vaga apenas se preenchem 100% dos requisitos, enquanto os homens se candidatam caso preencham 60% dos requisitos, referenciada na pesquisa do LinkedIn Gender Insights Report, fica o questionamento: existe um “gap” de autoconfiança antecedendo o gap salarial entre gêneros?

Vamos aos dados sobre a pretensão salarial

Para fornecer um contexto sobre os dados que mencionaremos, é importante destacar que a GeekHunter é um marketplace usado por inúmeros profissionais brasileiros de tecnologia que buscam novas oportunidades de trabalho no Brasil ou fora do país.

As pessoas recrutadoras cadastradas na plataforma utilizam nossas ferramentas de busca e recomendação para encontrar pessoas candidatas que atendam aos requisitos das vagas abertas em suas empresas. A pretensão salarial é uma das informações avaliadas durante o processo de seleção, ajudando a identificar perfis compatíveis com as expectativas salariais da empresa. E é a partir dessa informação que os dados serão aqui apresentados.

Os dados mostram que há uma diferença consistente na média de pretensão salarial entre homens e mulheres em todos os focos de carreira trabalhados na plataforma. Essa discrepância varia de 7,7% (em QA) até 27,3% (em DevOps), com uma média geral de 15,4%, como já mencionado anteriormente. 

A síndrome de impostor

Podemos estabelecer uma conexão entre esses dados e as evidências de que mulheres têm menor propensão a se candidatar e solicitar indicações para vagas, como revela a pesquisa Gender Insights Report,  ainda que observemos, na prática, que as empresas costumam contratar pessoas que atendem cerca de 50% de requisitos. Como dizem os recrutadores, raramente existe a pessoa perfeita para a vaga

Essa insegurança parece vir de um lugar de grande autocrítica e subestimação do valor que mulheres, como profissionais, conseguem gerar para as empresas.  Essa é a raiz da chamada Síndrome do Impostor, termo cunhado pela primeira vez em 1978 para descrever um fenômeno de “ansiedade generalizada, falta de autoconfiança, depressão e frustração relacionados à incapacidade de atender aos padrões de realização autoimpostos”, comumente percebido em mulheres com alto desempenho profissional.

Tempo de experiência 

Levantamos a hipótese de que as mulheres apresentariam uma pretensão salarial inferior se, na média, elas tiverem menor tempo de experiência nas carreiras analisadas. E, de fato, na base da GeekHunter, essa hipótese se verifica, quando olhamos para o gráfico abaixo:

Tempo de experiência médio de profissionais da GeekHunter, por gênero e foco de carreira.

No entanto, ao aprofundarmos a análise, comparando homens e mulheres com o mesmo tempo de experiência, a tendência se mantém: temos consistentemente mulheres apresentando pretensões salariais menores que as de colegas homens, mesmo atuando nas mesmas carreiras com as mesmas faixas de tempo de experiência. 

Cada gráfico representa as pretensões salariais dentro de um mesmo foco de carreira, por gênero e tempo de experiência

Fazendo essa análise para diferentes carreiras, na carreira de desenvolvimento, por exemplo, mulheres têm em média uma pretensão salarial 7,1% inferior aos homens com até 4 anos de carreira, e essa discrepância salarial aumenta para 11,0% após esse período.

Em gestão de produto, os dados mostram uma diferença semelhante, com um gap de pretensão salarial de 7,6% até 4 anos de carreira, que sobe para 9,3% após esse período. É importante destacar que, em todas as carreiras analisadas, o gap tende a aumentar à medida que os profissionais avançam em suas carreiras.

Podemos observar que, ainda que tenhamos uma proporção maior de mulheres com menor experiência, ao comparar a mesma faixa de nível de experiência, as mulheres apresentam uma pretensão salarial consistentemente inferior à de seus colegas homens.  Isso indica uma tendência preocupante de subvalorização do trabalho feminino e destaca a importância de abordar a disparidade salarial de gênero em todos os níveis de senioridade.

Precisamos conversar sobre salários

Tendo em mente que a disparidade de pretensões salariais existe e desfavorece majoritariamente as mulheres, e o fato de que elas também são particularmente afetadas pela Síndrome do Impostor, fica o questionamento: como podemos agir para garantir que todos os profissionais recebam um salário justo e igualitário, independente do gênero?

Uma das principais barreiras culturais que contribui para a manutenção dessa situação é o tabu generalizado em relação à discussão de salários. Esse comportamento pode ser instaurado pelas próprias empresas, mas também é amplamente disseminado fora do ambiente corporativo, afinal qual foi a última vez que você falou abertamente com seus amigos sobre o quanto vocês ganham?  Reflita: Você deveria sentir vergonha em compartilhar essa informação, mesmo com pessoas com quem você tem muita intimidade em outros aspectos da vida?

É praticamente impossível reconhecer uma situação onde você poderia receber uma recompensa melhor pelo seu trabalho se você não possuir referências externas. Busque grupos dentro da sua área de atuação onde a discussão sobre salários é aberta e estimulada. Use essas informações para embasar sua pretensão salarial e negocie em favor dessa pretensão ao longo da sua trajetória profissional.

E para tentar superar a Síndrome do Impostor ao declarar a pretensão salarial, lembre-se que muitas vezes subestimamos o real impacto do nosso trabalho e nossa capacidade de gerar bons resultados. Por isso, não deixe de inscrever-se para as vagas que você almeja, ajuste sua pretensão salarial de acordo com suas experiências, e acredite em si e no valor que você traz para uma organização, considerando sua combinação única de experiência profissional, valores, habilidades e paixões.  É fundamental reconhecermos nosso próprio valor e buscar referências externas, como pesquisas salariais, para embasar nossas pretensões. 

Por fim, é importante lembrar que a luta pela igualdade salarial é uma questão de justiça e valorização do trabalho, não apenas de gênero. Juntos, podemos construir um mercado de trabalho mais justo e igualitário.

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