Como uma voz que nos influencia a produzir frente a um mercado que exige produtividade e excelência, o outro lado da moeda se mostra em formas de garras que nos puxam para baixo e acabam com a mesma capacidade de produzir
Enquanto alguns defendem que a procrastinação é “um problema dos tempos modernos”, inúmeros artigos e estudos na verdade computam que a procrastinação é, acima de tudo, um problema humano.
Sendo conhecida como o ato de adiar tarefas importantes, geralmente optando por atividades mais fáceis e prazerosas no curto prazo.
Na TI é quase um bug sistêmico. Profissionais da área precisam lidar com problemas complexos, deadlines apertadas e uma avalanche de informações. O cansaço mental e a busca pela perfeição acabam criando um ambiente propício para o adiamento de tarefas importantes. E uma mente inquieta.
O que é procrastinação? E por que o seu cérebro foge de tarefas difíceis?
A procrastinação não significa simplesmente ser preguiçoso, ela tem raízes profundas na neurociência e no comportamento humano. Nosso cérebro é programado para buscar recompensas imediatas e evitar o desconforto, o que explica por que tarefas complexas e desafiadoras são constantemente deixadas para depois.
No universo da Tecnologia da Informação (TI), a procrastinação assume formas peculiares. Você já passou horas revisando um trecho de código que já estava funcional, apenas para sentir que estava sendo produtivo? Ou já se pegou abrindo várias abas com artigos técnicos, tutoriais e documentações, sem realmente aplicar nada do que estava lendo? Isso acontece porque a procrastinação no setor de TI muitas vezes se disfarça de trabalho produtivo.
Outro fenômeno comum é o chamado pseudo-trabalho: quando desenvolvedores e engenheiros de software passam um tempo excessivo refinando detalhes mínimos do código, ajustando indentação ou renomeando variáveis, enquanto adiam tarefas críticas como corrigir um bug complexo ou implementar uma funcionalidade essencial. Esse comportamento é reforçado pelo perfeccionismo, pelo medo de errar e pela sensação de sobrecarga mental, que fazem com que o profissional opte por tarefas mais familiares e confortáveis.
Além disso, a procrastinação pode ser exacerbada pela cultura do ambiente de TI. Empresas que adotam metodologias ágeis e entregas rápidas criam um ritmo acelerado de trabalho, o que pode gerar pressão e ansiedade. Em resposta a isso, muitos profissionais desenvolvem o hábito de adiar tarefas desafiadoras, pois associam esses desafios a frustração e estresse. Assim, o ciclo da procrastinação se perpetua: quanto mais uma tarefa é evitada, mais difícil e assustadora ela parece.
Por que a procrastinação é um problema?
Porque trabalhos que têm alto nível de complexidade, tomada de decisão constante e uma cultura que muitas vezes favorece a urgência e a distração é particularmente desafiadora para profissionais. Procrastinação não é apenas perder tempo navegando no celular ou assistindo vídeos aleatórios. No mundo da TI, ela pode estar disfarçada de trabalho produtivo. Na área de tecnologia, é possível observar 4 tipos:
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A síndrome do programador perfeccionista: nunca está bom o suficiente para ser entregue
Se você já se pegou refatorando um código que já estava funcional, adicionando pequenas otimizações sem um motivo claro ou hesitando em fazer um commit porque “ainda pode melhorar”, provavelmente já foi vítima do perfeccionismo.
Muitos desenvolvedores e engenheiros de software têm um padrão de qualidade extremamente alto. Isso, em parte, é ótimo – afinal, ninguém quer código mal escrito. O problema surge quando a busca pela perfeição se torna um obstáculo para a entrega. O código nunca parece estar “bom o suficiente”, e o profissional passa mais tempo refinando detalhes do que avançando no projeto.
Esse comportamento também está ligado ao medo da crítica. Ninguém quer ser o responsável por um código que gerou um bug crítico em produção ou que será revisado com dezenas de comentários no code review. Assim, inconscientemente, a pessoa evita finalizar a tarefa, pois enquanto ela não for entregue, também não pode ser julgada.
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Sobrecarga cognitiva: “Troquei de tarefa 10 vezes e agora nem sei mais o que estava fazendo.”
O trabalho em TI exige um nível de raciocínio profundo que poucas outras profissões demandam. Para desenvolver uma funcionalidade complexa, entender um sistema legado ou solucionar um problema crítico, é preciso entrar em um estado de concentração profunda. Esse estado, muitas vezes chamado de flow, é onde a produtividade realmente acontece.
No entanto, a sobrecarga cognitiva é um grande inimigo desse processo. O cérebro humano tem um limite para a quantidade de informações que consegue processar ao mesmo tempo. Se você passa o dia alternando entre tarefas, respondendo mensagens no Slack, resolvendo dúvidas do time e lidando com reuniões, sua mente nunca entra nesse estado ideal de produtividade.
O resultado? Você começa a procrastinar. Em vez de enfrentar um problema difícil, seu cérebro busca refúgio em tarefas mais fáceis, como organizar arquivos, ler artigos ou revisar código já escrito. E, no final do dia, fica aquela sensação de que você trabalhou muito, mas produziu pouco.
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A armadilha do multitasking: Como abrir 12 abas do Stack Overflow te faz produzir menos, não mais
Se existe um mito que precisa ser desconstruído no mundo da tecnologia, é o de que ser multitarefa é uma habilidade desejável. Na realidade, pesquisas já comprovaram que tentar fazer várias coisas ao mesmo tempo não só reduz a eficiência, como também aumenta a exaustão mental.
Quantas vezes você já abriu diversas abas com soluções para um problema, começou a testar diferentes abordagens e, no meio do caminho, se perdeu completamente no que estava fazendo? A sensação de que precisamos estar sempre buscando a melhor solução, combinada com a facilidade de acesso a milhares de respostas na internet, faz com que muitos profissionais de TI fiquem presos nesse ciclo de pesquisa infinita.
O cérebro humano simplesmente não foi feito para alternar entre tantas tarefas de maneira eficiente. Cada vez que você muda de contexto – de um código para um artigo, de um problema para uma dúvida no Slack – perde tempo e energia mental. Isso não é produtividade, é sobrecarga.
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O efeito da cultura de urgência: Trabalhar em TI é estar sempre “apagando incêndios”
Outro fator que alimenta a procrastinação na TI é a cultura de urgência. Se você já teve que parar tudo o que estava fazendo para corrigir um bug crítico na produção ou para atender a uma demanda inesperada do cliente, provavelmente sabe do que estamos falando.
Muitas equipes de tecnologia operam no modo “apagar incêndios”. Em vez de trabalhar de maneira estratégica e planejada, os profissionais vivem resolvendo problemas emergenciais. Isso cria um ambiente de constante interrupção, onde é difícil manter o foco e concluir tarefas mais longas e complexas.
A consequência disso é que as tarefas realmente importantes – aquelas que exigem planejamento, concentração e esforço contínuo – acabam sendo empurradas para depois. Afinal, sempre há algo mais urgente para resolver. O problema é que essa mentalidade cria um ciclo vicioso: a falta de tempo para planejamento gera mais problemas no futuro, que por sua vez alimentam a cultura da urgência.
Tipos de procrastinação na TI e como corrigir
Refatorar um código até a perfeição, pesquisar novas abordagens para um problema ou revisar implementações já feitas pode parecer trabalho útil – e, em alguns casos, realmente é. Mas quando isso se torna um ciclo interminável, estamos diante de um problema.
A seguir, vamos explorar os três principais tipos de procrastinação que afetam os profissionais de TI e como corrigi-los.
O famoso “Só mais um ajuste”
A procrastinação técnica acontece quando a busca pela perfeição impede a entrega. Desenvolvedores e engenheiros de software frequentemente caem nessa armadilha porque se sentem desconfortáveis ao entregar algo que não consideram “perfeito”. O problema? Software perfeito não existe.
Como corrigir?
- Defina um critério claro de finalização. Antes de começar uma tarefa, estabeleça os requisitos mínimos para que ela seja considerada concluída.
- Use prazos rígidos. Estipule um tempo máximo para revisão e otimização, e quando esse tempo acabar, entregue.
- Pergunte a si mesmo: isso realmente melhora a funcionalidade? Se a mudança não afeta a performance, segurança ou legibilidade de forma significativa, provavelmente não vale o tempo extra.
- Adote a mentalidade do “feito é melhor que perfeito”. Priorize entregas funcionais e melhorias incrementais em vez de esperar pela solução ideal.
A síndrome da aba aberta
O problema do excesso de informação é que ele dá a sensação de produtividade. Afinal, você está aprendendo algo novo, certo? O problema é que essa busca infinita por conhecimento pode ser uma forma de evitar enfrentar o problema real.
Como corrigir?
- Defina um tempo limite para pesquisa. Se precisar buscar uma solução, determine um tempo máximo (exemplo: 30 minutos). Se não encontrar uma resposta, parta para a tentativa e erro.
- Feche abas desnecessárias. Se uma aba não está diretamente relacionada ao seu trabalho atual, feche-a. Se for algo interessante, salve para ler depois.
- Use técnicas como o método Pomodoro. Trabalhe em ciclos de 25 minutos sem distrações e, só depois, faça pausas curtas. Isso reduz a tentação de cair na armadilha da informação infinita.
- Prefira fontes confiáveis e diretas. Em vez de sair navegando sem rumo, vá direto à documentação oficial ou a fóruns específicos sobre o problema.
“Se eu adiar, o problema some”
A procrastinação por ansiedade acontece quando evitamos algo porque sentimos que não somos capazes de fazer ou porque o desafio parece esmagador. O problema? Adiar só torna a tarefa mais difícil, já que a pressão e o acúmulo de demandas aumentam.
Como corrigir?
- Divida o problema em partes menores. Em vez de pensar na tarefa como um todo, quebre-a em pequenas etapas que sejam mais fáceis de iniciar.
- Aplique a regra dos dois minutos. Se algo pode ser iniciado em menos de dois minutos, comece agora. O simples ato de começar reduz a ansiedade.
- Aceite que o erro faz parte do processo. Erros são normais no desenvolvimento de software. O importante é aprender com eles e iterar.
- Use a técnica da contagem regressiva. Se estiver adiando algo, conte mentalmente “3, 2, 1” e comece. Esse truque simples ajuda a superar a resistência inicial.
- Crie prazos auto impostos. Definir um prazo pessoal, mesmo que ninguém esteja cobrando, pode ajudar a evitar adiamentos desnecessários.
Duas técnicas para parar de adiar:
Automação e delegação – deixe o código trabalhar para você
Muitas tarefas que consomem tempo na TI podem ser automatizadas, mas a procrastinação faz com que adiemos essa implementação. O resultado? Continuamos desperdiçando tempo em processos manuais desnecessários.
Se você se pega frequentemente adiando tarefas porque elas são repetitivas e chatas, considere automatizá-las. Algumas sugestões incluem:
🔹 Uso de scripts – Em vez de repetir tarefas manuais, crie scripts para automatizá-las.
🔹 Configuração de aliases no terminal – Pequenos atalhos podem economizar muito tempo.
🔹 Uso de ferramentas CI/CD – Automatizar deploys e testes reduz o trabalho repetitivo.
🔹 Automação de e-mails e notificações – Para evitar distrações desnecessárias.
Gestão do ambiente digital – Pare de se sabotar sem perceber
Seus dispositivos podem ser seus maiores aliados ou seus piores inimigos quando se trata de procrastinação. Muitas vezes, as distrações não vêm da sua própria vontade, mas do ambiente ao seu redor.
Como otimizar seu ambiente digital para produtividade?
✅ Use bloqueadores de sites – Ferramentas como Cold Turkey ou Freedom ajudam a bloquear redes sociais e outras distrações durante o trabalho.
✅ Desative notificações desnecessárias – Slack, e-mail e WhatsApp podem ser grandes vilões. Desative notificações e estabeleça horários específicos para verificá-los.
✅ Organize sua área de trabalho – Um desktop bagunçado pode criar sobrecarga mental e dificultar o foco.
✅ Modo avião estratégico – Para tarefas que exigem concentração extrema, desconectar-se da internet por um tempo pode ser uma excelente solução.
Conclusão
A procrastinação é como um bug persistente no seu fluxo de trabalho: se você não identificar e corrigir, ele pode comprometer toda a sua produtividade. No entanto, agora você tem um conjunto de ferramentas e estratégias para sair desse ciclo e focar no que realmente importa: entregar mais código e menos desculpas.
A ideia não é parar de procrastinar de uma vez, mas treinar o seu cérebro a ser mais produtivo e objetivo. Quando você investe tempo em melhorar o seu trabalho, as tarefas fluem com muito mais eficiência e no final do dia você não sente como se não tivesse feito nada. A dica da Geek é: foque com mais qualidade, mesmo que seja por só 5 minutinhos! Até a próxima!
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