A vontade fazer uma transição de carreira é uma realidade para a maioria das pessoas no Brasil.
Agora com mais um ano de pandemia, uma pesquisa da Intera aponta que 53% da população brasileira quer mudar de profissão. Esse desejo está atrelado ao triste momento que estamos vivendo.
Mas e aí? É possível mudar de carreira e, mais do que isso, depois dos 30 e no meio da pandemia?
Vou contar aqui pra vocês a história real de um dos meus melhores amigos (com a autorização dele) que fez uma transição de carreira nos últimos anos, entrando na área de tecnologia, e quais são os pilares para uma mudança de profissão bem sucedida.
Bora lá? Dá uma olhada nos tópicos de hoje 👇
Por que mudar de carreira
O Charles é um grande amigo que conheci quando trabalhamos juntos em uma editora de livros didáticos. Ele era responsável pelo material de matemática de ensino fundamental e médio de um dos selos da editora.
Ele se formou em Letras, mas sempre gostou de tecnologia e sempre teve vontade de trabalhar na área, já abrindo portas para uma futura transição de carreira.
Esse é um ponto bastante importante da história que implica em uma pergunta que você deve se fazer: você tem interesse em tecnologia independentemente do seu descontentamento atual com o trabalho?
Pois o descontentamento com a função anterior do Charles levou anos para chegar, pelo menos a ponto de estar na hora de trocar de carreira, entende?
Mas o gosto por tecnologia sempre esteve ali e era perceptível: ele manjava de computadores e dava dicas pra gente, conhecia aplicativos e meandros da internet que ninguém mais tinha ouvido falar (e que eram muito bons) e convencia a gente a usar também. O próximo passo seria estudar alguma linguagem de programação.
Então quando foi que o Charles percebeu que era hora de mudar de carreira e o que ele fez?
O autoconhecimento é importante para a transição de carreira
Bom, ele percebeu que se sentia estagnado na função dele. O trabalho era minucioso mas um tanto repetitivo. Não havia muito espaço para ousar, e quando o trabalho tem essa sensação de “mais do mesmo” vai ficando cada vez mais difícil de sentir prazer e se orgulhar do que faz.
Ele queria se sentir desafiado, usar a criatividade e construir coisas interessantes. Pessoas curiosas e que gostam de testar, experimentar e aprender precisam de funções estimulantes ou vão se sentir entediadas.
Elas podem ser excelentes no trabalho delas, mas isso não é o suficiente, ele precisa ser dinâmico. E não tem área mais dinâmica que a de tecnologia. Isso pode ser suficiente para você almejar uma transição de carreira.
Aliás, está aí outro questionamento pra você se fazer: esse dinamismo te anima ou te assusta?
É importante saber disso sobre o trabalho como desenvolvedor, de que as mudanças são constantes e o aprendizado deve partir, em grande parte, de você mesmo.
Então, se você busca se tornar um desenvolvedor(a) apenas para ter um alto salário, mas sem ter o perfil de um bom desenvolvedor, é possível que essa mudança não seja positiva.
Os motivos para fazer uma transição de carreira são muitos e, em geral, ninguém muda por um motivo só.
Mas se as suas maiores motivações forem ter um desejo grande de colocar a sua criatividade e seu gosto por tecnologia em prática, passar por desafios e estar em constante movimento, você já tem parte importante do perfil de um desenvolvedor.
Caminhos para fazer uma transição de carreira
No caso do Charles, ele já estava bem pertinho dos 30 anos quando tomou a decisão da transição de carreira. É comum que as pessoas nessa idade tenham o desejo de mudar e que esse desejo venha com um pacotinho de medo.
Afinal, aos 30 é comum que a gente tenha muito mais responsabilidades do que quando éramos mais novos: alguns podem estar casados, ter filhos, estar pagando uma moto/carro/casa ou precisar ajudar alguém da família.
E transitar de carreira aos 30 implica começar do zero, ganhar menos, diminuir o padrão de vida.
Certo? Quanto mais no começo da carreira você estiver, mais fácil será fazer essa mudança, tanto do ponto de vista financeiro (pois o baque é menor) quanto do emocional (vamos falar disso mais pra frente).
Não “queime as pontes”
Então, a primeira coisa que o Charles fez quando decidiu iria fazer a transição de carreira foi não sair da editora. Ele decidiu estudar ciência da computação, prestou vestibular e continuou trabalhando na editora, guardando dinheiro e estudando.
Não dava pra simplesmente “largar tudo e fazer o que sempre sonhou” como lemos em tantas notícias romantizando a transição de carreira. Algumas pessoas têm o privilégio de contar com o apoio financeiro dos familiares ou de um cônjuge nessa etapa, mas essas são as exceções.
Com uma grana guardada, ele teve a segurança de pedir demissão quando achou que era a hora certa de começar a procurar um estágio para trabalhar como desenvolvedor back-end de PHP.
Planejamento financeiro para a transição de carreira
O planejamento financeiro é preciso para não passar perrengue (ou, pelo menos, não tanto perrengue) nos primeiros anos até que você consiga superar o seu salário da profissão anterior. No caso do Charles, foram dois anos e meio.
No estágio ele passou a receber cerca de 25% do salário que tinha na editora. Mas hoje, dois anos e meio depois da transição de carreira, ele já recebe mais do que recebia com 10 anos de experiência como editor de texto e ele ainda é um desenvolvedor júnior.
Então a moral aqui é: comece a fazer uma reserva financeira (pois quanto mais alto você estiver na sua carreira atual e quanto mais compromissos financeiros você tiver, maior pode ser a dificuldade de recomeçar) e comece a estudar alguma linguagem de programação.
Você não precisa entrar numa faculdade, mas precisa começar a estudar para ver o que você se interessa ou não.
Desafios e aprendizados na transição de carreira
Os três pilares para uma transição de carreira bem sucedida, de acordo com a experiência do Charles, são a autoconfiança, o foco no progresso e o cuidado com as comparações.
E aí eu adiciono o fator planejamento, cuja importância a gente viu no item anterior. Sem planejamento, o desejo de mudança pode nunca se concretizar.
Hoje ele está super feliz com a transição de carreira, mas durante muito tempo a insegurança bateu e ele pensou em desistir
Autoconfiança
Não é fácil sair de uma área em que você já sabe muito e entrar em um campo novo, onde você não manja nada. Muitas vezes meu amigo pensou em desistir, pensou que não fosse conseguir, sentiu que não era bom o suficiente.
E é aí que a autoconfiança entra, para você levantar o mais rápido possível quando começar a cair nas próprias armadilhas.
Aliás, um pensamento errôneo bastante comum é o de que a transição de carreira vai te fazer começar tudo do zero.
Do ponto de vista técnico e de hierarquia sim, mas o que você vai aproveitar da sua experiência anterior é algo cada vez mais valorizado por recrutadores: as soft-skills. Pense nas vantagens que a sua maturidade profissional pode te trazer.
Cuidado com as comparações
Outra coisa que ele disse é que parte dessa insegurança vai vir quando você se comparar com os outros à sua volta. Especialmente com gente mais nova e que já sabe mais.
Mas fazer essas comparações é só mais uma armadilha que vai te fazer querer desistir. Fazer uma transição de carreira para dedsenvolvimento dá trabalho, exige esforço, paciência e a compreensão de que você está num caminho completamente diferente da maioria dos seus colegas (seja num curso ou no trabalho).
E isso pode te trazer até um certo sentimento de solidão, pois muito da sua experiência seus colegas não vão compartilhar com você. Então procure alguém que esteja fazendo o mesmo processo de transição de carreira para densenvolvimento para que vocês possam conversar.
Charles encontrou uma moça no trabalho que também estava começando como desenvolvedora depois de uma carreira em uma área completamente diferente.
A partir disso, os dois passaram a ter alguém com quem se identificam mais. Se compare consigo mesmo e com quem você era ontem, buscando a melhoria sempre.
Foco no seu progresso
O terceiro pilar, que é o foco no seu progresso, está intimamente ligado aos outros dois. Quando você se compara com os outros acaba não valorizando os passos que você deu e isso mina a sua autoconfiança.
Ter um objetivo maior pode ser tanto estimulante quanto desanimador, depende de como tratamos o caminho. Manter o olhar lá longe, apenas no objetivo de longo prazo, pode fazer a gente sentir que não está progredindo, quando está sim.
Mas para perceber esse progresso é preciso prestar atenção nele. Até porque, como meu amigo disse, conforme você chega muito perto do objetivo (conseguir um cargo como desenvolvedor Python, por exemplo), ele já mudou e existe algo maior no seu horizonte (aprender um novo framework, adquirir experiência full-stack ou fazer uma especialização em gerenciamento de projetos) que talvez você não tivesse planejado antes.
Então o aprendizado é a autoconfiança deve ser alimentada para que seja possível se manter dedicado no caminho da transição de carreira, valorizando cada passo e lembrando que a sua jornada não é melhor nem pior que a dos outros.
Como se tornar um desenvolvedor de software
Esse é um ponto que vai depender muito da trajetória e experiências de cada pessoa. Não existe uma fórmula mágica para a transição de carreira, mas vamos ver como o Charles se saiu?
Educação e formas de aprender
Quando entrou na faculdade ele aprendeu algumas bases sobre tecnologia e programação mas sentiu que a faculdade era muito ultrapassada em relação ao mercado, então ele aprendeu mesmo no trabalho (como na maioria das profissões), colocando a mão na massa.
Quando a pandemia começou ele acabou optando por não continuar a graduação, pois percebeu que aprendia muito mais no trabalho ou com cursos dados por especialistas atualizados, como na plataforma Alura (se puder arcar com o custo, é um ótimo caminho).
Se você preferir fazer uma graduação, os cursos de ciência da computação são os mais indicados.
Existem também muitos tutoriais no YouTube, alguns são ruins e outros são muito bons.
Mas como são diferentes de cursos estruturados dá muito mais trabalho caçar tutorial por tutorial e criar você mesmo o seu conteúdo programático.
Algumas dicas de canais são o Código Fonte TV (em um dos vídeos a Vanessa conta como ela mudou de profissão para trabalhar com tecnologia), o canal Curso em Vídeo (que tem playlists mais organizadas) e o canal Programação Dinâmica (que ganhou 1º lugar no Creator’s Pitch) e o do Filipe Deschamps (que foi CTO da Pagar.me e agora se dedica exclusivamente ao canal).
Se você tiver conhecidos na área, peça ajuda, dicas de como estudar, mostre interesse. Esses contatos, além de te ajudarem a evoluir, podem te render indicações de vagas no futuro.
Entrando no mercado de trabalho
Fique sempre de olho na página de vagas de tecnologia da GeekHunter, tanto para saber o que as vagas dos seus sonhos pedem e se preparar para elas, quanto para se candidatar.
No primeiro estágio do Charles, não pediram experiência prévia nem para ver projetos prontos, queriam apenas conhecer o perfil individual dele.
Numa outra entrevista, mais pra frente, foi pedido que ele fizesse uma API para a entrevista para uma vaga de Python, mas no teste davam a liberdade de usar a linguagem com a qual se sentisse mais confortável, então ele fez em PHP e passou.
Então veja, não conhecer a linguagem com a qual ele iria trabalhar não era um problema, o mais importante era ver como ele já trabalhava, pois isso mostraria se a lógica dele era boa o suficiente ou não.
Ele se dedicou muito a esse teste e construiu uma API com muito mais recursos do que foram solicitados e isso deve ter impressionado.
Valorize o que sabe, demonstre ter vontade e aprenda tudo o que puder no trabalho, pois é ali que estão as pessoas mais atualizadas e os problemas que precisam de soluções reais.
Como fazer transição de carreira para outra área de programação se já trabalho com tecnologia
Sua vantagem aqui é já estar no meio, ter fluência em alguma linguagem e ter uma rede de contatos. O choque da transição de área deve ser muito menor do que se estivesse transitando entre duas profissões completamente diferentes.
No entanto, ainda será um recomeço e tudo que foi dito antes vale aqui também: Quanto mais alto você estiver na hierarquia da sua área, maior será o recomeço, a diferença salarial, etc.
Um desenvolvedor java sênior não alcançará o mesmo patamar em iOS em seis meses, percebe?
O caminho para a mudança aqui é o mesmo descrito acima:
- Fazer uma reserva financeira (geralmente o seu custo mensal pretendido multiplicado por 12 ou 24 meses);
- Começar a estudar sobre a sua nova área de interesse;
- Entrar em contato com times/profissionais dessa nova área e interagir com eles, se possível até participar de projetos juntos;
- Ficar atento aos 3 pilares da autoconfiança, do foco no processo e de não se comparar com os outros (falados lá em cima);
- Ficar de olho nas oportunidades e nos requisitos delas para ir se adequando aos poucos (na GeekHunter, temos as melhores oportunidades do mercado de tecnologia, então acompanhe a nossa página de vagas para se preparar melhor e achar a colocação ideal pra você).
O Charles mesmo começou como desenvolvedor PHP back-end, passou um ano e meio estagiando, se tornou júnior e agora tem experiência full-stack.
Na empresa onde ele trabalha hoje, como eles funcionam numa lógica de times muito colaborativos, ele está aprendendo com os engenheiros sêniores a trabalhar com arquitetura de software.
Com ele ainda está no começo da carreira e já teve contato com tudo isso, dá pra trilhar um caminho bastante completo e tomar uma direção com maior segurança.
Você já passou por alguma transição de carreira? De outras áreas para tecnologia ou entre linguagens? Conte mais nos comentários 💬 e se inspire nas histórias de outras pessoas!